Parágrafo Novo

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30 out., 2023
Parcela substancial da população apresenta níveis de inteligência inferiores aos considerados normais. A DI se caracteriza pela redução significativa das habilidades cognitivas bem como por prejuízos no comportamento adaptativo, o que leva a dificuldades na interação social, na comunicação, no raciocínio e, por consequência, na aprendizagem de modo geral.  Pode se apresentar em níveis variados de comprometimento, e podem ser reconhecidos os níveis leve, moderado, severo e profundo. Cerca de 85% dos casos são leves, podem passar desapercebidos por muitos anos e ser confundidos com outras condições. O instrumento mais adequado para o diagnóstico de DI é a avaliação neuropsicológica.
30 out., 2023
Não é rara a informação dos pais de que “meu filho é muito difícil” para se referir a várias queixas tais como: “ele é muito inquieto”, “ele não obedece”, “ele não faz o que a gente pede”, “ele cria problemas em vários locais, inclusive na escola, “quando pedimos alguma coisa para ele, a primeira resposta é “não”, “ele não aceita combinados”, “ele só faz o que ele quer” etc. Evidentemente, algumas condições tais como o Transtorno Opositor Desafiador e a Hiperatividade devem ser consideradas e identificadas corretamente para que possam ser tomadas medidas que visem a minimizar as inadequações presentes. No entanto, tenho atendido inúmeras crianças que, apesar de apresentarem queixas como as mencionadas, não preenchem os critérios necessários para definir um diagnóstico definido. Quero chamar a atenção aqui para a existência de “crianças difíceis” que, simplesmente, têm comportamentos que podem realmente incomodar, mas que não tem têm necessariamente “um diagnóstico”. Ainda que não se identifique uma condição específica, intervenções como terapia psicológica e orientação familiar podem reduzir significativamente os comportamentos ditos “difíceis”.
30 out., 2023
Estima-se que cerca de 40% das crianças em idade escolar apresentem algum nível de dificuldade em desempenhar adequadamente as tarefas propostas pela escola. Importante assinalar que não há uma causa comum que explique por que tantos alunos não conseguem aprender, e temos que levar em conta que fatores múltiplos podem estar presentes. Alguns alunos não aprendem por causas diretamente ligadas às escolas: currículos que não levam em conta diferenças individuais na forma como aprendemos, modelos escolares que não atendem a todas as formas de ser das crianças, e mesmo professores pouco capacitados. Não podemos nos esquecer de levar em conta a possível presença de doenças crônicas como um fator importante. Crianças advindas de ambientes familiares que não priorizam a educação e que, portanto, não exercem a parceria fundamental entre escola e família podem apresentar mal aproveitamento acadêmico.  A presença de algumas condições (deficiência intelectual, transtorno do espectro do autismo e TDAH, para citar alguns exemplos) deve ser investigada, e, quando presentes, os procedimentos adequados a cada uma dessas condições deverão ser implementados, incluindo-se possíveis adaptações curriculares.
15 set., 2023
A Deficiência Intelectual (DI) se caracteriza pela presença de limitações significativas no funcionamento intelectual e no comportamento adaptativo, iniciando-se antes dos 18 anos de idade. Os prejuízos presentes variam de quadros severos até aqueles mais sutis que poderão ser de mais difícil identificação. Estima-se que afete cerca de 1,34% da população brasileira, o que significa 2,5 milhões de pessoas. Quando separamos a DI pelo grau de prejuízos presentes, temos que casos considerados leves equivalem a cerca de 85%, 10% são moderados, severos 4% e profundos 2%. Por razões óbvias, os casos com sintomatologia mais grave são aqueles que são mais facilmente e precocemente identificados, mas os casos mais leves, não raramente, não são corretamente diagnosticados e, não infrequentemente, são invisíveis, por assim dizer, frente aos familiares, aos professores e mesmo a alguns profissionais da área da saúde e educação. Há alguns anos atrás, em uma reunião com o então Secretário da Educação do Estado de São Paulo, quando discutíamos a necessidade de melhorar o atendimento às crianças com DI matriculadas na rede estadual de Educação, o Secretário me perguntou: — Afinal de contas, onde estão tantos deficientes aos quais vocês se referem? Respondi a ele: “ — Secretário, atravesse a rua e entre naquela escola situada logo à nossa frente, e o senhor os encontrará, embora na grande maioria dos casos eles não tenham sido identificados como tal. Possivelmente estarão com diagnósticos como TDAH, Dislexia, Problemas Comportamentais etc. Se não pensarmos que essa condição existe, que é frequente e é passível de diagnóstico a partir de protocolos de diagnóstico adequados, eles continuarão Invisíveis no que tange às suas características e necessidades.
15 set., 2023
Em anos recentes passamos por várias situações que levaram à implementação de consultas médicas online. Evidentemente, uma das causas que podemos identificar foi a pandemia da Covid-19 que fez com que, por vários meses, tivéssemos que evitar o contato com outras pessoas, o que dificultou ou impediu que as pessoas fossem aos consultórios médicos. Por outro lado, tivemos também o grande desenvolvimento tecnológico que permitiu o acesso à internet de grande parte da população bem como o uso crescente desse modo de comunicação. Dessa forma, vários profissionais da saúde passaram a oferecer a possibilidade de consultas online. Porém, ao menos em minha opinião, ainda que em algumas circunstâncias esse tipo de atendimento possa atender aos critérios de algum tipo de diagnóstico ou de prescrição de algum método de tratamento, essa forma de atendimento não é a ideal. Concordo que, em alguns casos, consultas online possam ser efetivas. Como exemplo posso citar terapias em que paciente e terapeuta possam, por meio de conversas online, identificar problemas e discutir possíveis soluções; casos em que uma imagem compartilhada online por si só leve ao diagnóstico (como em determinadas lesões cutâneas); e em casos de interpretação de algum exame de laboratório ou de imagem. No caso de profissionais que dependem de uma avaliação em profundidade do desenvolvimento de uma criança, parece-me imprescindível que haja um ou mais contatos pessoais, na medida em que é fundamental que o profissional da saúde possa avaliar a interação da criança com seus acompanhantes e com ele mesmo, observar como a criança brinca com vários objetos e brinquedos que lhe serão ofertados, como ela se comunica, como entende e participa das brincadeiras e, finalmente, mas não menos importante, quais os dados que podem ser obtidos pelo exame físico. Pelo que foi aqui exposto, acho que fica claro por que, em especialidades como a minha – Neuropediatria, consultas online não são indicadas, exceto em caso de um paciente já conhecido que necessite apenas de uma atualização pontual.
15 set., 2023
É obrigatório que o profissional da saúde que atenda a um paciente forneça a ele ou aos seus responsáveis um relatório (laudo) informando o procedimento realizado e as suas conclusões, citando as hipóteses diagnósticas ou a certificação do diagnóstico bem como as sugestões referentes aos exames eventualmente solicitados e o tratamento proposto. De alguns poucos anos para cá, a emissão desses laudos tem se tornado uma verdadeira saga, fazendo que boa parte do tempo dos profissionais seja dedicada a sua confecção. Os familiares dos pacientes têm, cada vez mais, “sugerido” como os relatórios devem ser escritos; os planos de saúde têm proposto formas de relatório que se adequam às suas finalidades; e os advogados (a judicialização da saúde tem se tornado cada vez mais frequente) propõem aos médicos modelos de relatório que se assemelham muito mais a peças jurídicas do que a relatórios médicos habituais.  Na verdade, continuo a emitir relatórios sintéticos que contemplam todas as informações necessárias, deixando para os advogados a tarefa (para as quais são contratados e remunerados) de construir uma peça jurídica convincente que permita a seus clientes sucesso na tentativa de obter o melhor programa de intervenção.
01 set., 2023
O ozônio é um gás formado por três átomos de oxigênio e, muito embora venha sendo utilizado para várias doenças e condições há muito tempo, ainda não foram obtidas evidências de sua eficácia na maioria delas. Além de incertezas quanto aos benefícios que o seu uso, em medicina, possa trazer, há indicativos de que efeitos colaterais indesejáveis podem ocorrer. O ozônio introduzido no organismo de formas variadas (oral, retal, vaginal etc.) teria ação benéfica em condições clínicas as mais diversas, tais como câncer, processos inflamatórios, autismo e outras, mas, na verdade, o seu uso somente tem sido comprovadamente eficiente em determinados procedimentos odontológicos e estéticos. Parece claro que, até o momento, o principal efeito do ozônio é acumular-se na atmosfera terrestre protegendo nosso planeta dos efeitos deletérios dos raios UV2.  Contra a posição adotada pela maioria das instituições médicas, inclusive pela ANVISA, recentemente o governo brasileiro autorizou o seu uso, como forma de tratamento complementar, pelo Sistema Único de Saúde – SUS. Lamentável a decisão de oferecer esse método de tratamento complementar aos usuários do nosso SUS, enquanto tantas terapêuticas com evidências científicas de eficácia ainda não o são.
Por Marcia Cury 31 jan., 2021
Poda neural ou morte neuronal programa ou, ainda, apoptose é um processo normal durante o desenvolvimento do cérebro e que tem sido mal-entendido. Tenho ouvido de muitas pessoas, como familiares e mesmo profissionais que cuidam de crianças, que “aconteceu a poda neuronal e ele ficou assim” ou “temos que tratar logo antes que aconteça a pode neural”. Nada mais distante da realidade, pois esse processo, que é muito intenso nos primeiros anos de vida, mas que se estende até a vida adulta, nada mais é do que a eliminação dos neurônios e sinapses que foram formados em demasia e que, não sendo aproveitados, devem ser eliminados, pois a sua manutenção resultará em disfunções do sistema nervoso. Produzimos um número de neurônios e sinapses muito superior ao que será utilizado, e deverão permanecer ativas aquelas estruturas cerebrais que foram devidamente estimuladas. Dessa forma, permanecem ativadas as estruturas que são utilizadas e são eliminadas aquelas não devidamente estimuladas. O que quero é chamar a atenção para esse processo de poda neural que é um fenômeno normal e que, quando não ocorre de forma adequada, determinará disfunções que poderão se manifestar em quadros clínicos tais como o TEA e a esquizofrenia. 
Por Marcia Cury 31 jan., 2021
Recentemente o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos publicou o resultado de pesquisa sobre a prevalência (número de casos de uma determinada doença em um local em um período de tempo determinado) do Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) como sendo de uma em cada 36 pessoas com idades variando de 3 a 17 anos. Quando olhamos para a prevalência dessa condição em períodos anteriores, notamos que houve um aumento exponencial nesses números. Mas, uma crítica que se faz ao CDC é a de que os autores não discutem as possíveis causas desse aumento. Se aceitarmos como exata essa nova estimativa, penso que vale a pena tentar justificar esse aumento. Um primeiro aspecto que poderia ser invocado é o de que o próprio conceito de TEA se modificou muito nos últimos anos. O que se admite hoje na definição do Espectro é, de longe, muito diverso do quadro clínico descrito por Kanner e por Asperger. Me parece óbvio que, quando você aumenta o tamanho do “guarda-chuva” TEA, cabe ais gente embaixo dele. Dessa forma, acredito que casos que hoje são diagnosticados como TEA nível 1 não teriam esse diagnóstico alguns anos atrás. Outra possível explicação é que, à medida que essa condição passou a ser muito mais conhecida, passou também a ser mais reconhecida. Como admitimos hoje, o TEA é uma condição multifatorial em que estão presentes fatores genéticos bem como ambientais. Ora! Se pudermos identificar fatores ambientais que têm aumentado nos últimos anos, talvez possamos explicar melhor o aumento nos diagnósticos de TEA. Alguns fatores ambientais têm sido implicados como agentes que aumentam o risco do nascimento de crianças que apresentarão sinais e sintomas do TEA: obesidade materna, infecções durante a gestação, uso de medicamentos anticonvulsivantes (acido valpróico) e antidepressivos (inibidores seletivos da recaptação da serotonina) são alguns dos fatores que já foram relacionados a risco aumentado para o TEA nos produtos dessas gestações. Me parece que este assunto (aumento no número de diagnósticos de TREA) ainda merece ser mais bem esclarecido, pois restam muitas perguntas sem resposta convincentes.

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